Que seja assim
Certo de que não suma
A identidade de mim
E me torne só mais uma
Uma pessoa longe de mim
E que o esquecer não me consuma
Busco agora
Tudo o que não quis
Tudo o que joguei fora
Pois sei o que não fiz
Cresci com meu pouco apreço
Mas hoje, hoje reconheço
Que cada coisas é tão rica
Nas raízes, e hoje fica
Muito claro que meu berço
Não é só maior que um terço
De tudo que me trisca
Sobro toda a minha Terra
Que ao longe alguém berra
Poe o gado pr’outro lado
E fecha o cercado
Acende o fogo com a faísca
E meio abestado fica
De ferver o leite fresco
Ao som do rio Santa Rosa
Que corta toda a cidade
Que é maternidade
Do José do João e da Rosa
Que trabalham na roça
E tangem as galinhas
E brigam com a culuminhas
Por que são muito atentadas
E cantam o Trem das Onze
Na boca do fogão
Pois o almoço, que não é muito não
Sai bem cedo, antes das onze
Em minha terra
Criança que erra
Toma uma pêia
E mulher feia
Casa, mesmo sendo feia
Nos dias de jogo na Lisa
Batia aquela brisa
Que ficava melhor assim
Com o gosto do dindin
De vez em quando era gol
Do Flamengo da Barreira
E subia toda aquela poeira
E a gente que era culumin
Fica ali na beira
Chupando o dindin
A gente rodava peão
Brigava e rolava no chão
Atravessava o rio a nado
E nem ficava cansado
Com a forte correnteza
Que com certeza
Ajudava a manter o braçado
Na semana santa
Tinha bolo de puba
E eu comia feito uma anta
E nem comia a janta
Tinha canjica de milho
E mãe gritando:
“Oh, filho! Come mais um pedacim”
E longe de mim
Querer pensar em esquecer
Toda aquela festa linda
Que era feita ainda
Nos festejos de Nossa Senhora
Nossa Senhora da Conceição
E tinha até procissão
Ave Nossa Senhora...
Tinha barraca de camelô
E um dia de Babão me melô
Mas o Zé Bode gritô
E o Babão chorô
Por que eu,
Eu não deixei barato
Melei todo o sapato
Dele e do Fabin
Que riu de mim
E mangou da minha cara
E eu ainda disse: “Para!”
Mas ele não me ouviu
Então no final fui eu quem riu.
Bom também era na praça
Onde todo mundo achava graça
Das piadas do Mereu
Que assim como eu
Ficava lá ate tarde
Mas ainda estou na metade
De tudo o que tenho
Pra falar e agora venho
Continuo a contar
Tudo que conseguir lembrar
Contar, contar...
As historias de terror
Que me causavam horror
Que com medo arrebatador
Corria pra chegar em casa
Que era quente que nem brasa
Mas me abraçava
Assim que eu chegava
Tinha uma vovó
Que cuidada do vovô
E dos filhos e dos netos
Era amiga de outra vovó
Que não ia nas festas
Que cuidava das galinhas
Botava nóis na linha
Mas tinha muito amor
Sei que todos a amavam
Seus filhos netos e amigos
Que não eram poucos
E se amontoavam
Pra comer feito loucos
Sua farofa de carne
Que todo fim de tarde
Ela servia com café
E tinha até
O Paulo Cazaca
Que sumia por meses
E aparecia como os fregueses
Do Bar do tio Valdir
Que quando tinha seresta
Ficava cheio, era festa
Onde tinha muita gente
Com chifre na testa
Era assim que se falava
Quando muita cerveja tomava
Toda aquela gente boa
Que não estava ali a toa
Pois era perto do rio
E nunca tava firo
E todo mundo
Ia lá pro fundo
Pra se refrescar
Nadar...
Tinha o clube do Nonato Ramos
A festa de Ramos
O Bumba meu boi
Quem nem sei quando foi
A ultima vez que dancei
E nem quando comecei...
Tinha o sete de setembro
Que se bem me lembro
Eu era doido pra tocar
Mas eu era criança
E me botavam pra marchar
E lá também comecei a cantar
No show de calouros
Com meus cabelos louros
Que sumiram com o tempo
Minha raiz ainda está
Fincada e forte
E espero que seja lá
Onde eu fique mais forte
Colossal é minha saudade
Só menor que minha felicidade
De ter nascido ao som das vozes
Da cidade de Araióses.
Muito legal, gostei do sotaque de algumas palavras, deu um tom mais verdadeiro e poético ao mesmo tempo.
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